Para o especialista em transporte marítimo e presidente da Clarkson Research, Martin Stopford, as mudanças em curso no cenário do transporte marítimo são de uma escala semelhante à mudança da vela para o vapor. Segundo ele, é importante lembrar que o crescimento do comércio já estava diminuindo antes do Covid-19. “Estamos entrando em uma era em que a globalização não é mais o problema. Veremos mais remessas de curta distância e manufatura local” diz Stopford. Ele antecipa três cenários concebíveis para o transporte após o coronavírus: no melhor dos casos, o comércio marítimo voltará a crescer em 2023, crescendo 3,2% ao ano. O segundo cenário pressupõe uma recessão prolongada, com o comércio mundial diminuindo em 1% entre 2020 e 2024, seguido de um crescimento renovado a uma taxa de 2,2 %. “No cenário 3, há uma recessão ainda mais extensa, com o comércio marítimo diminuindo em 17% até 2024”, diz Stopford em sua previsão mais pessimista.
Quanto aos combustíveis marítimos do futuro, o especialista em transporte espera três ondas de inovação. Na opinião de Stopford, o diesel é uma coisa maravilhosa e não será fácil substituí-lo. A primeira onda verá embarcações de propulsão convencional, mas otimizadas. Na sequência veremos navios a gás e híbridos ou elétricos, com baixas emissões, avançados sistemas de controle digital e baterias. Na terceira onda, as células de combustível permitirão aos navios operar sem emissões.
Na opinião da COO da start up catalã bound4blue, Cristina Aleixendri, a pandemia abre muitas oportunidades novas para a indústria marítima. “O coronavírus pode ser o impulso que nos permitirá alcançar os objetivos de descarbonização mesmo antes de 2050”, afirma ela, acrescentando que o objetivo das tecnologias verdes e da digitalização é reduzir as emissões e os custos. “Eles devem ser rentáveis desde o primeiro dia, sem subsídios”, diz Aleixendri. Mas como os armadores podem investir durante a crise?
Essa é uma pergunta que Dirk Lehmann, diretor administrativo da Becker Marine Systems vem ponderando. Ele pede aos governos que façam concessões de longo alcance e apoiem a indústria marítima. “Estaleiros e fornecedores são pilares importantes para apoiar o setor de transporte marítimo. Essas empresas e seus funcionários estão sofrendo com a pandemia de maneiras especialmente graves”, enfatizou. Eles dependem do apoio dos tomadores de decisão políticos. Fornecer esse apoio é a única maneira de garantir um fornecimento constante de bens e progresso técnico na Europa.
A crise não afeta somente as empresas de transporte mas também empresas afins como por exemplo as sociedades classificadoras. No caso da DNV GL ela tem trabalhado fortemente, desde 2018, com seu sistema de diagnóstico remoto DATE, de acesso direto a técnicos especialistas. Desde então a classificadora já realizou mais de 15.00 diagnósticos remotos. O serviço, exclusivo da DNV GL, permite garantir segurança e conformidade regulamentar através do uso de moderna tecnologia a bordo. Para o CEO da classificadora, Knut Orbeck-Nielssen, toda crise abriga uma oportunidade de melhoria. “Estamos à beira de um renascimento do transporte marítimo e da indústria marítima. Em poucos meses a pandemia turbinou a jornada de digitalização do setor, avançando-a em meia década”.
O coronavírus e seus impactos no setor marítimo foi o tema central da coletiva de imprensa convocada pelos organizadores da Feira SMM. A Feira, que seria realizada em setembro próximo em Hamburgo, na Alemanha, foi adiada para fevereiro do próximo ano devido à pandemia.
Fonte: Portos&Navios
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